Muito tempo se passou depois daquele dia. Nunca mais tocamos no assunto, mas ele continuava em minha mente, claro, mas não tão forte como antes. Sempre era a hora dele voltar, mas sempre era cedo demais também e isso que mais me incomodava! Não posso apressar as coisas, mas também não posso fingir que nada existiu, pois ainda lembro de tudo que disse e cada palavra ecoa em minha cabeça como se tudo tivesse acontecido há apenas cinco minutos atrás.
Bom, a vida tem que continuar e nós continuamos com a vida, tudo normal, talvez nem tão normal, mas tudo indo razoavelmente bem. Claro que problemas são o que não faltam, mas é tão bom quando compartilhamos os nossos que eles até parecem mais leves, ou algumas vezes até engraçados. E durante esse tempo começamos a conversar mais, conversas à toa, problemas cotidianos, novidades, coisas engraçadas e lembranças também.
Tudo estava indo muito bem, até o dia em que ela foi presa! O crime que ela cometeu? Nenhum. Não havia justificativa, estava presa porque deveria estar e deveria se acostumar a essa condição. E ela adaptou-se rápido, muitos poderiam dizer que tudo estava bem e a felicidade já reinava estampada em seu rosto, porém em nossa última conversa ela revelou-me o quanto ver o pôr-do-sol estava fazendo falta para ela e já fazia muito tempo que ela não via o pôr-do-sol de sua terra natal que realmente era um espetáculo!
Por que ela me revelou esse seu desejo? Agora o desejo dela virou o meu desejo e eu tinha de arranjar algum jeito de levar o pôr-do-sol de sua terra natal até ela, mas como fazer isso? Eu não tinha a menor idéia de como fazer, mas sabia que tinha que fazer e decidi partir para a terra-natal dela pensando que talvez o pôr-do-sol de lá me ajudasse.
As coisas não estavam nem um pouco fáceis para mim, talvez essa viagem me ajudasse, até mesmo para organizar melhor os pensamentos ou esquecer algumas coisas, ou quem sabe tudo? Dizem que esse pôr-do-sol tem esse poder de fazer esquecer... mas e se eu chegar lá e acabar esquecendo de tudo? Será que não seria melhor se isso acontecesse mesmo?
Depois de algum tempo já estava caminhando pelas areias da praia da terra natal dela. Uma sensação de paz enorme tomava conta do ambiente, estava sozinho, sozinho diante de toda aquela imensidão de mar e aquele pôr-do-sol fantástico!
Continuei caminhando e já não fazia sentido para onde eu estava indo. Nenhum pensamento, apenas seguindo o sol que ia deslizando pelo céu em direção ao mar. Eu me sentia muito bem, nada importava agora, aliás, com o que eu deveria me importar? Já não lembro, só lembro de estar caminhando sozinho nessa praia que parece não ter fim.
Resolvi sentar um pouco e apreciar melhor aquele espetáculo, quando me dei conta de que não estava totalmente sozinho naquele lugar! Havia um pequeno inseto andando pela areia ao meu lado. Era uma bela e colorida joaninha. Era uma viva joaninha. Estranho... joaninhas não costumam andar pelas praias assim... mas aquela joaninha era meio diferente... de algum jeito ela fazia me lembrar de que eu não estava ali sozinho. Ficava imaginando o porquê daquele pequeno inseto estar ali no meio da praia ao meu lado e comecei a lembrar do porquê eu estava ali naquela praia ao lado daquela joaninha.
É claro que não estava sozinho! Como pude pensar isso? Por mais solitário que pareça o lugar eu sempre trago comigo minhas lembranças e elas são minhas maiores companhias em lugares assim. Eu não estou sozinho! Não importa o que parece ser, mas sim o que eu quero que seja, o que eu acredito. Talvez esteja aí a chave de como conseguir levar o pôr-do-sol para ela!
Mas como? Como representar toda essa cena, essa confusão harmoniosa de cores do pôr-do-sol? Talvez ele me ajudasse se eu ficasse por ali mais um tempo e foi o que eu fiz, continuei admirando a paisagem. Quem sabe, assim como o pequeno inseto foi um sinal talvez aparecesse algum outro para me indicar o que fazer?
Durante algum tempo fiquei esperançoso de que isso fosse acontecer, mas o tempo foi passando e eu não consegui ter nenhuma idéia.
Nuvens começaram a se formar no céu e o pôr-do-sol já não era mais o mesmo. O vento começava a soprar mas frio e parecia que ele estava borrando toda a paisagem do pôr-do-sol. Parecia uma gigante aquarela onde as cores se misturavam e uma nova paisagem era formada aos poucos.
Em pouco tempo não havia mais pôr-do-sol, e sim um céu totalmente nublado. Uma tempestade vinha chegando e eu continuava olhando fixo para o lugar onde antes havia um sol e agora só havia uma grande nuvem cobrindo tudo. Eu perdi o pôr-do-sol e não tinha nenhuma idéia de como levá-lo para ela ainda. Como iria fazer agora se ele se foi? Iria demorar muito tempo para o próximo pôr-do-sol e talvez eu não conseguisse esperar todo esse tempo.
Resolvi voltar para casa. A chuva caia por toda a cidade e mesmo com meu guarda-chuva aberto eu estava todo molhado. Era uma chuva forte. Pesada como o meu fracasso que pesava em minha cabeça.
Eu apenas continuava andando e a chuva continuava a cair. Já não havia mais ninguém nas ruas, pois todos estavam em suas casas se agasalhando e tomando seus chocolates quentes, enquanto eu andava e pensava em como ela estava triste por não poder ver o pôr-do-sol de sua terra natal. Comecei a pensar que não havia mais sentido em voltar, talvez fosse até pior, continuar a ver a sua infelicidade diante daquela prisão.
Resolvi parar. Para que voltar? Fiquei ali sentado na calçada olhando para a chuva que estava parando agora. O que fazer? Voltar, mesmo sem sucesso ou ficar por ali mesmo? Ficar por ali mesmo seria o mais fácil, mas eu não podia fazer isso, pois ela estava me esperando, e era isso que me impedia de abandonar a idéia de voltar.
A chuva parou e de repente eu vejo algo diferente no céu. Um fraco arco íris no meio de toda aquela escuridão e essa visão me traz a idéia de esperança. Como eu posso estar pensando em ficar ali para sempre? Não! Eu tenho um grande motivo para voltar, aliás, foi o mesmo motivo que me fez vir até aqui, eu não posso simplesmente ficar e esquecer tudo!
Sim, é ele! Um arco-íris! Trazendo vida para a cidade após a tempestade e me fazendo lembrar que aquele pôr-do-sol que eu tinha ido buscar ainda estava vivo dentro de mim! Oras, eu não havia fracassado, eu fui para buscar o pôr-do-sol e ele continuava comigo, não havia se dissipado com uma simples tempestade.
A medida que o arco-íris ficava mais claro eu começava a ficar mais decidido de que iria voltar sim! Mas ainda precisava de um jeito de representar aquele pôr-do-sol de uma maneira real! Real assim como o arco-íris que agora estava aparecendo mais forte no céu! Claro! poderia pegar as cores do arco-íris para representar o pôr-do-sol! Só assim ele pareceria realmente real! Assim como a chuva borrou toda paisagem com sua chegada, como se tudo não passasse de uma grande aquarela, eu poderia pintar aquela cena com as cores reais do arco-íris que conseguiram pintar uma nova paisagem no céu.
Fui até o início do arco-íris e consegui pegar um pouco de suas cores para poder representar o pôr-do-sol. As cores eram impressionantes, mas fiquei um pouco desanimado quando percebi que só pegar as cores não era o suficiente. Afinal, o pôr-do-sol estava comigo e só eu poderia representá-lo agora através daquelas cores e não elas que fariam o trabalho sozinhas.
Quando eu era criança tive algumas expêriencias com pintura. Talvez eu fosse um gênio do mundo da pintura artística...
Porém, mamãe não aprovava muito os resultados... o que me fez desistir de seguir carreira ou sequer voltar a pintar de novo. Mas agora era diferente. Agora parece que estou preparado, que sou bom nisso, me sinto confiantes. Aliás, por você estou sempre confiante pois sou bom o bastante para tudo quando penso em você ou quando estou ao seu lado.
Bom, nesse momento estou pintando o pôr-do-sol e já estou quase terminando, assim como já estou no fim desse texto. Talvez esse texto chegue às suas mãos antes mesmo do seu pôr-do-sol, pois não sei por quanto tempo mais você ainda ficará presa e quanto tempo a pintura deverá passar pela revista dos guardas que lhe mantém trancada. Você pode até ficar surpresa, pois eu não havia prometido nada e você sequer chegou a me confiar a missão de ir buscar o pôr-do-sol para você, mas você precisa saber o porquê de eu estar sumido por tanto tempo. Talvez você ache que eu não deveria me incomodar, mas lembre-se que sua tristeza me incomoda mais que qualquer coisa e espero que não tenha esquecido daquela conversa há muito tempo atrás sobre aquele assunto em que eu disse que não conseguiria dizer não para você. Mais uma vez eu repito a mesma frase, como naquele dia, "então, cuidado com o que você me pede, porque eu não posso dizer não".
*imagens retiradas aleatoriamente do flickr
sábado, 11 de agosto de 2007
Pôr-do-Sol
Assinar:
Postar comentários (Atom)
12 comentários:
Que lindooo!!! como eu gostaria de ser a tal prisioneira só para receber essa pintura
muuuuito lindo jaummm!!!
aiai porque no meu tempo de prisioneira não era assim? cheguei a me emocionar aqui e você sabe como isso é dificil! oww parabéns! bjnh
Muito bonito, Jaum! Olha a referência no fim do texto pra good enough hehehe!
good enough em breve estará tocando quando o blog abrir para as pessoas lerem o texto e escutarem a música.
muito bom o texto, agora só falta descobrir a musa inspiradora! uheuheuhe
abraço Jaum!
muito melhor que os textos do cappellinho! Xp
adorei o blog!
LindooooooooooO! Ju, adorei seu texto! Me emocionei aqui e quando eu li a ultima frase e a musica tocando aquela frase eu até me arrepiei!
bjokas
eu tava aqui lendo na minha... e começou a tocar a música do nada... dei um pulo da cadeira de susto! ¬¬ hauhuahuahuahuahuhau (isso pq vc já tinha me avisado que tinha música)
enfim, johnezito... o que dizer? o romance está no ar. rs
mas a pergunta que não quer calar: ela está presa pq? matou alguém? roubou bala em uma loja de conveniência? agiu como vândala perante patrimônio público?
Enfim... deixa eu ir que tempo é dinheiro... e meu fluxo não anda lá essas coisas.
bêjo.
oi joao
eu sei q demorei mto pra ler esse texto
mto massa
me arrepemdi pelo tempo em q n o li
mas vc me perdoa né?
shalom!!!
Esse texto ainda me emociona
:´)
Beijo grande
Postar um comentário